(imagem retirada do google.com)
"Você é menina, não pode
jogar futebol!", disse o garoto que via a mãe sendo agredida diariamente,
sendo impedida de sair de casa até para comprar um pão, pelo marido alcoólatra.
E mesmo diante de toda essa situação, ele cresceu ouvindo a mãe dizendo coisas
como: “Rosa é cor apenas para meninas.”.
Mais tarde, já adolescente, o
garoto reproduz uma frase muito falada pelo pai dele: “Mulher no volante é
perigo constante”, desprezando o fato de ser uma mulher, sua instrutora da
autoescola.
O tempo passa, ele agora é adulto
e vive num país onde 1.314 mulheres são mortas por ano, pelo fato de serem
mulheres – uma a cada 7 horas, em média.
“POR QUE, POR QUE A MINHA MÃE?!”,
ecoava os gritos do jovem, no corredor de uma casa simples, no subúrbio do Rio
de Janeiro. Ele gritava de dor e desespero depois de ver a cena que nem em seus
piores pesadelos ele sonhou: a mãe morta, com uma faca cravada no peito, em
posição fetal, mergulhada no próprio sangue. Naquela posição, inerte no chão
frio, o corpo dela parecia tentar se proteger de algo, ou melhor, de alguém.
Sim, era do próprio marido, o pai do garoto. Aquele que deveria protegê-la, foi
o responsável por aquela cena de terror.
Nervoso, agitado... ele ainda a
pega em seus braços e corre para o hospital mais próximo. Ela está morta, mas o
desespero não o deixa raciocinar, e de alguma forma ele esperava ouvir dela uma
última vez: “Deus te abençoe, meu filho!”. Mas, era tarde demais.
Depois de dar o último adeus
àquela que sentiu as dores de parto, ele, desolado, liga a tv e assiste William
Bonner recapitulando, ou seja, relembrando mais um feminicídio. Não, não era de
alguém que ele amava, Bonner não falava da mãe que o jovem acabara de sepultar.
A notícia era sobre uma mulher de 25 anos chamada Eliza Samúdio, ou a “amante
do goleiro Bruno do Flamengo” - como dizia o famoso jornalista, já que mesmo
depois de anos de luta, as mulheres, mesmo assassinadas, continuavam sem sobrenome, sendo
apresentadas ao mundo como pertencendo
aos homens de suas vidas, e não por quem de fato são.
No jornal, explicavam que o
motivo do crime foi porque Elisa, depois de anunciar estar grávida do goleiro,
exigia o reconhecimento da paternidade e pensão alimentícia. Isso foi o
suficiente para ela ser asfixiada, esquartejada, e ter o corpo jogado aos
cachorros, por ordem do atleta, então estrela do clube de futebol.
Vendo aquilo, o garoto desligou a
televisão e começou a questionar o porquê de tanta violência. Por que mesmo com
tanta evolução, tanta tecnologia, as mulheres continuam sendo marginalizadas
pela sociedade? Por que são excluídas de cursos como uma engenharia mecânica, e
ter que ouvir o mantra machista de que “lugar de mulher é na cozinha, pilotando
o fogão”? Por que são mortas diariamente, apenas por serem quem são?
Ele foi além, pesquisou e
descobriu que só nos Estados de Alagoas e Acre, de cada 10 mil mulheres, 2,5
mil foram vítimas de feminicídio, segundo dados apurados pelo G1, referentes
aos últimos 3 anos, divulgado no início de 2020.
Quanto mais ele lia, mais ele
lembrava. E como um relâmpago, a mente do jovem lhe trouxe lembranças do
passado.
"Você é menina, não pode
jogar futebol.", dizia ele, ainda garoto, para uma amiguinha da escola.
Ele, que em casa via todos os dias a mãe sendo agredida, impedida de sair até para comprar um pão, pelo marido
dela.
As lembranças continuavam...
agora, ele já era adolescente, e repetia com frequência a frase falada pelo
próprio pai: “Mulher no volante é perigo constante”. Ele reproduzia desprezando
o fato de ter aprendido a dirigir na autoescola com uma instrutora mulher.
A memória martelava com força a
consciência do jovem. Agora, é adulto vive num país onde 1.314 mulheres são
mortas por ano, pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.
Nesse carrossel de emoções,
lembranças e pensamentos, o jovem, consegue cair no sono. Ao amanhecer, ele
pega o celular e vê a data: 8 de março, é Dia Internacional da Mulher.
Coincidência? Talvez. Então, ele pensa: qual o verdadeiro significado dessa
data? Ele volta a se questionar.
Ainda com o celular em mão, ele
abre uma notícia sobre a data e vê a seguinte frase ao fim da matéria: “A luta
por direitos iguais não se restringe apenas às mulheres, mas também à todos
aqueles que entenderem que nenhuma voz deve ser calada, nem muito menos a de
uma mulher, que ao contrário do que muitos pensam, não é o sexo frágil”.
Então, ele bloqueia o celular,
olha para o céu e diz: Feliz dia da mulher, mãe! Obrigado por tudo. Hoje,
entendo o quanto você foi forte.
Carta ao leitor:
Bem, caro leitor, preciso confessar que essa foi a minha primeira crônica jornalística, que nasceu por acaso, por causa de um trabalho de uma professora minha. O intuito desse trabalho, era escolhermos um tema qualquer e escrever um artigo jornalístico, mas, quando lembrei que amanhã (08/03/2020), é o dia internacional da mulher, senti a necessidade de falar algo sobre. Quando eu comecei a escrever, vi que o texto tomou outro rumo e, apenas deixei fluir. Todos os dados presentes aqui estão disponíveis no site do G1.
Espero profundamente que você tenha gostado! Um beijo!
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