Mais uma mulher morta no dia 8 de março


(imagem retirada do google.com)

"Você é menina, não pode jogar futebol!", disse o garoto que via a mãe sendo agredida diariamente, sendo impedida de sair de casa até para comprar um pão, pelo marido alcoólatra. E mesmo diante de toda essa situação, ele cresceu ouvindo a mãe dizendo coisas como: “Rosa é cor apenas para meninas.”.

Mais tarde, já adolescente, o garoto reproduz uma frase muito falada pelo pai dele: “Mulher no volante é perigo constante”, desprezando o fato de ser uma mulher, sua instrutora da autoescola.

O tempo passa, ele agora é adulto e vive num país onde 1.314 mulheres são mortas por ano, pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.

“POR QUE, POR QUE A MINHA MÃE?!”, ecoava os gritos do jovem, no corredor de uma casa simples, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ele gritava de dor e desespero depois de ver a cena que nem em seus piores pesadelos ele sonhou: a mãe morta, com uma faca cravada no peito, em posição fetal, mergulhada no próprio sangue. Naquela posição, inerte no chão frio, o corpo dela parecia tentar se proteger de algo, ou melhor, de alguém. Sim, era do próprio marido, o pai do garoto. Aquele que deveria protegê-la, foi o responsável por aquela cena de terror.

Nervoso, agitado... ele ainda a pega em seus braços e corre para o hospital mais próximo. Ela está morta, mas o desespero não o deixa raciocinar, e de alguma forma ele esperava ouvir dela uma última vez: “Deus te abençoe, meu filho!”. Mas, era tarde demais.

Depois de dar o último adeus àquela que sentiu as dores de parto, ele, desolado, liga a tv e assiste William Bonner recapitulando, ou seja, relembrando mais um feminicídio. Não, não era de alguém que ele amava, Bonner não falava da mãe que o jovem acabara de sepultar. A notícia era sobre uma mulher de 25 anos chamada Eliza Samúdio, ou a “amante do goleiro Bruno do Flamengo” - como dizia o famoso jornalista, já que mesmo depois de anos de luta, as mulheres, mesmo assassinadas,  continuavam sem sobrenome, sendo apresentadas  ao mundo como pertencendo aos homens de suas vidas, e não por quem de fato são.

No jornal, explicavam que o motivo do crime foi porque Elisa, depois de anunciar estar grávida do goleiro, exigia o reconhecimento da paternidade e pensão alimentícia. Isso foi o suficiente para ela ser asfixiada, esquartejada, e ter o corpo jogado aos cachorros, por ordem do atleta, então estrela do clube de futebol.

Vendo aquilo, o garoto desligou a televisão e começou a questionar o porquê de tanta violência. Por que mesmo com tanta evolução, tanta tecnologia, as mulheres continuam sendo marginalizadas pela sociedade? Por que são excluídas de cursos como uma engenharia mecânica, e ter que ouvir o mantra machista de que “lugar de mulher é na cozinha, pilotando o fogão”? Por que são mortas diariamente, apenas por serem quem são?

Ele foi além, pesquisou e descobriu que só nos Estados de Alagoas e Acre, de cada 10 mil mulheres, 2,5 mil foram vítimas de feminicídio, segundo dados apurados pelo G1, referentes aos últimos 3 anos, divulgado no início de 2020.

Quanto mais ele lia, mais ele lembrava. E como um relâmpago, a mente do jovem lhe trouxe lembranças do passado.

"Você é menina, não pode jogar futebol.", dizia ele, ainda garoto, para uma amiguinha da escola. Ele, que em casa via todos os dias a mãe sendo agredida, impedida  de sair até para comprar um pão, pelo marido dela.

As lembranças continuavam... agora, ele já era adolescente, e repetia com frequência a frase falada pelo próprio pai: “Mulher no volante é perigo constante”. Ele reproduzia desprezando o fato de ter aprendido a dirigir na autoescola com uma instrutora mulher.

A memória martelava com força a consciência do jovem. Agora, é adulto vive num país onde 1.314 mulheres são mortas por ano, pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.

Nesse carrossel de emoções, lembranças e pensamentos, o jovem, consegue cair no sono. Ao amanhecer, ele pega o celular e vê a data: 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. Coincidência? Talvez. Então, ele pensa: qual o verdadeiro significado dessa data? Ele volta a se questionar.

Ainda com o celular em mão, ele abre uma notícia sobre a data e vê a seguinte frase ao fim da matéria: “A luta por direitos iguais não se restringe apenas às mulheres, mas também à todos aqueles que entenderem que nenhuma voz deve ser calada, nem muito menos a de uma mulher, que ao contrário do que muitos pensam, não é o sexo frágil”.

Então, ele bloqueia o celular, olha para o céu e diz: Feliz dia da mulher, mãe! Obrigado por tudo. Hoje, entendo o quanto você foi forte.

Carta ao leitor:

Bem, caro leitor, preciso confessar que essa foi a minha primeira crônica jornalística, que nasceu por acaso, por causa de um trabalho de uma professora minha. O intuito desse trabalho, era escolhermos um tema qualquer e escrever um artigo jornalístico, mas, quando lembrei que amanhã (08/03/2020), é o dia internacional da mulher, senti a necessidade de falar algo sobre. Quando eu comecei a escrever, vi que o texto tomou outro rumo e, apenas deixei fluir. Todos os dados presentes aqui estão disponíveis no site do G1.
Espero profundamente que você tenha gostado! Um beijo!


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